quarta-feira, 17 de junho de 2009

Fazendo turismo...


Em março, ganhei de presente de aniversário de uma amiga querida, o Turista Aprendiz (Mário de Andrade. Itatiaia, 2002). Tava meio preguiçosa e com muita coisa na fila. Só comecei a leitura agora. O prefácio já é um mega petisco. Que inveja verde dessa viagem. Ele passou três meses de 1927 em roteiro pelo Peru, Bolívia, Norte e Nordeste em comitiva, na companhia da dama do café, Olívia Guedes Penteado, e mais duas senhorinhas (entre elas a filha de Tarsila do Amaral), pra voltar com idéias em ebulição para completar o Modernismo made in Brazil. Macunaíma deve ter nascido por aí. Ainda exibe suas qualidades como fotógrafo, registrando as brasilidades encantado com os recursos fotográficos da época. Ele simplesmente fez o que me coçou durante minha ida à Belém: "viagens pelo Amazonas até o Peru, pelo Madeira até a Bolívia e por Marajó até dizer chega". No Pará, me provocou: "(...) provamos o açaí (...) tomar banho de água doce em quase pleno mar (...) Menu: Camorim. Pato com tucupi. Leitão com farinha d'água. Compota de bacuri, creme de abacate, e o sorvete de murici que tem gosto de queijo parmesão ralado com açúcar. E frutas, frutas (...) Em Belém o calorão dilata os esqueletos e meu corpo ficou extamente do tamanho de minha alma (...) Gosma de rã jaguaretê-cunaguaru dá felicidade pra caça e pesca (...) Nesta noite provei sorvete de graviola. Esquisito... a graviola tem gosto de graviola mesmo, isso é incontestável, mas não é um sabor perfeitamente independente. É antes uma imagem, uma metáfora, uma síntese apressada. É a imagem de todas essas ervas, frutas condimentares, que, insistindo são profundamente enjoativas. Não chega a ser ruim, mas irrita. Aliás, o guaraná daqui, pelo menos o que eu provei, tem um gosto vazio, fica-se na mesma (...)." Também me deu um pouco da esquizofrenia literária, que eu tanto gosto: "Aliás, também em SP, nas minhas solidões procuradas de que eu gosto tanto (...) sempre tudo se enche de mim, de gente, de seres (...) são sempre ou personagens que eu invento pra ter casos pacíficos e felizes com eles, ou são meus companheiros de vida, meus amigos. Mas são sempre amigos melhores que meus amigos de carne e osso, os mesmo nomes e nos corpos mas melhorados por mim (...) O que eu sinto, ou o que eu faço é enquanto estou escrevendo, e até lendo, é ter o quarto habitado, em geral um, raro dois amigos, que estão ali, juro que estão, lendo por cima dos meus ombros o que escrevo (...) É tão bom (...) eu nunca me sinto deserto e provando o gosto sáfaro da solidão que quando estou numa sala cheia de pessoas, mesmo sendo todas amigas. É indiscutível: eu gosto muito mais dos meus amigos quando eles estão longe de mim." Quando crescer, quero saber viajar que nem ele...

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