terça-feira, 16 de junho de 2009

Sou mesmo e daí...


Dizer que sou politicamente correta costuma ser motivo de chacota entre meus conhecidos descolados. Passando por uma situação destas, em que eu era a única do "tipo", me lembrei de uma história bizarra que me subverteu as conexões sinápticas da memória longínqua. Vai saber por que eu lembro deste tipo de coisa. O caso se deu na biblioteca da faculdade, no meu primeiro ano de USP, no fim da década de 80. Um veterano notou minha chateação quando não encontrei um livro que eu precisava para uma prova na semana seguinte. Um daqueles livros de auto-ajuda acadêmica. Cheio de regras e esquemas. Conteúdo mesmo que é bom... Mas era o dito que constava na referência da minha avaliação. E como meu colega era um cara gentil, educado, até meio mauricinho pro meu gosto, mas enfim, um sujeito que pelos corredores da facul eu chamaria de interessado, me ofereceu o livro dele. Que sorte a minha. Um altruísta no meu dia! Mas havia um senão. Oi? É. Você não pode ler ele por aí. Como assim por aí? Eu corria o risco de ser solicitada a devolver o livro. Ele havia sido "achado". Me entende? E foi o que aconteceu. Durante minha leitura na sala de aula, outro colega, cara simples, do tipo durango, morador do CRUSP, comia no bandejão, bolsista após as aulas pra ajudar com a grana, me fez a pergunta constrangedora. Em milésimos o livro, meio mofado comprado em um sebo, mudou de mãos. Ele sumiu do vestiário de sobre minhas coisas. Alguém da minha turma, não foi? Recuperei seu livro, não me faz responder isso. Na data combinada pra devolução ainda levei um pito por ser trouxa e perder uma descolada dessas. Passei quatro anos tentando ler o caráter de meus colegas de universidade. Eu tinha só 17 anos.

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