terça-feira, 22 de abril de 2008

Auto-retrato...


Meus poros sempre foram mais abertos. As notas dos cheiros sempre chegaram um tom acima em minhas narinas. O beliscão de criança, mais roxo e dolorido. O ouvido, quase de tuberculoso, fez de cada ruído um timbre estridente. As cores como uma festa, às vezes, entorpeciam e confundiam. A simples caminhada, uma escalada na altitude. Exaustivamente, sempre foi assim. Nunca adiantou chorar, dormir ou esquecer. Por ironia, meu tempo sempre teve seu lapso maior. Tudo é mais lento. Vagaroso. Devagar. Não adianta me apressar. O relógio descompassa e conta cento e vinte no lugar de sessenta. Desantecipa. Tenho que esperar o dobro. Horas, pra enxergar o óbvio. Outras tantas pra processar a resposta. Vai ver daí a intensidade, e a droga fica mais tempo na sinapse. Mas meus neurônios são mais longos. Nunca me habituo. Nem o mundo. Aos cinquenta terei vinte e cinco, com o cansaço de cem. Dom ou maldição. Devia ter sido artista.

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